sexta-feira, 25 de maio de 2012

Só o amor salva!


Todo domingo eu era obrigada a ir à igreja. E todo domingo eu sofria por ter que ouvir um sermão que não me interessava, que eu nem entendia. Sofria porque tinha que inventar pecados pra confessar e me culpava por paquerar durante a missa. Sofria por querer estar em qualquer outro lugar da face da Terra e por ser obrigada a me calar, levantar e sentar quando o padre mandasse. Mas tinha algo que me perturbava ainda mais.
A mesma missa juntava todos os membros da comunidade. Aquele sujeito que diziam ser mafioso, aquele outro que teria dado o calote não sei em quem e outro que juravam ter violentado a própria enteada. Todos ali, orando e confessando os pecados na garantia de um lugar no céu.  Como meu delito infanto-juvenil (brigar com meu irmão!) poderia ser comparado a tamanhos outros crimes? Quer dizer que pode matar, vender a mãe e roubar a mulher do próximo contanto que reze mil ave-marias?
Confesso (pra vocês, não pro padre!) que essa questão ainda me incomoda. Já não freqüento igreja (nem por obrigação, nem por opção!), mas continuo perplexa com a hipocrisia do ser humano. De nada adianta o sujeito ir à missa todo domingo e maltratar a mulher em casa. Não faz sentido doar pra campanha social o dinheiro público desviado. Não tem cabimento estudar a Cabala e destratar o próximo na esquina. Pra que ajudar crianças refugiadas na África Central se não cuida do filho que está ao lado?  O termo hipócrita, uma transcrição do vocábulo grego hypochrités, se refere a alguém que oculta à realidade atrás de uma máscara de aparência, como os atores gregos faziam no teatro. “... A sua piscina está cheia de ratos, suas idéias não correspondem aos fatos...”, poetizou Cazuza.
Não sigo religião, mas trabalho minha espiritualidade. Acredito que é no dia a dia que amamos o próximo e colocamos em prática os mandamentos divinos (semelhantes em todas as religiões, diga-se de passagem!).  Creio nas pequenas ações, nos milagres cotidianos, nos pequenos atos que mudam vidas, que salvam o mundo, que nos tornam melhores.  Eis aí, o mistério da fé!









3 comentários:

  1. Muito bem colocado! Adorei...Faço minhas as suas palavras. Também não tenho vínculos religiosos, acredito que Deus se manifesta em nossas vidas todos os dias e é nos pequenos gesto que nos encontramos verdadeiramente com ele e com nosso próprio eu!

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  2. Ótimas palavras! Obrigada por ler e comentar! abs

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