Todo domingo eu era obrigada a ir à
igreja. E todo domingo eu sofria por ter que ouvir um sermão que não me
interessava, que eu nem entendia. Sofria porque tinha que inventar pecados pra
confessar e me culpava por paquerar durante a missa. Sofria por querer estar em
qualquer outro lugar da face da Terra e por ser obrigada a me calar, levantar e sentar
quando o padre mandasse. Mas tinha algo que me perturbava ainda mais.
A mesma missa juntava todos os membros da
comunidade. Aquele sujeito que diziam
ser mafioso, aquele outro que teria dado o calote não sei em quem e outro que juravam ter violentado a própria enteada. Todos
ali, orando e confessando os pecados na garantia de um lugar no céu. Como meu delito infanto-juvenil (brigar com
meu irmão!) poderia ser comparado a tamanhos outros crimes? Quer dizer que pode matar, vender a mãe e roubar a mulher do próximo contanto que reze mil ave-marias?
Confesso (pra vocês, não pro padre!) que
essa questão ainda me incomoda. Já não freqüento igreja (nem por obrigação, nem
por opção!), mas continuo perplexa com a hipocrisia do ser humano. De nada
adianta o sujeito ir à missa todo domingo e maltratar a
mulher em casa. Não faz sentido doar pra campanha social o dinheiro público
desviado. Não tem cabimento estudar a Cabala e destratar o próximo na esquina. Pra
que ajudar crianças refugiadas na África Central se não cuida do filho que está
ao lado? O termo hipócrita, uma transcrição do vocábulo grego hypochrités, se refere a alguém que
oculta à realidade atrás de uma máscara de aparência, como os atores gregos
faziam no teatro. “... A sua piscina está cheia de
ratos, suas idéias não correspondem aos fatos...”, poetizou Cazuza.
Não sigo religião, mas trabalho minha
espiritualidade. Acredito que é no dia a dia que amamos o próximo e colocamos
em prática os mandamentos divinos (semelhantes em todas as religiões, diga-se
de passagem!). Creio nas pequenas ações,
nos milagres cotidianos, nos pequenos atos que mudam vidas, que salvam o mundo,
que nos tornam melhores. Eis aí, o mistério
da fé!
Muito bem colocado! Adorei...Faço minhas as suas palavras. Também não tenho vínculos religiosos, acredito que Deus se manifesta em nossas vidas todos os dias e é nos pequenos gesto que nos encontramos verdadeiramente com ele e com nosso próprio eu!
ResponderExcluirÓtimas palavras! Obrigada por ler e comentar! abs
ResponderExcluirIdem Idem Idem!
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