Estamos
matando a arte das coisas! Trucidando a poesia, vulgarizando o lirismo. Estamos
desaparecendo com a arte de cumprimentar, de olhar nos olhos, de dialogar. A
arte de simplesmente ouvir, sem julgar ou fazer network. A arte de contemplar sem ter um celular na mão ou um
discurso na cabeça.
Comer
com arte e sem pressa. Comer por prazer, não por hábito. Comer o que se
precisa, sem ter hora certa ou receita pronta. Cozinhar o que se come, sabendo
a procedência e a relevância. Aquela comida caseira feita devagar no fogão
baixo virou lembrança de infância. Na esquina se compra um congelado sem
gordura trans, glúten ou lactose. Tira do freezer, mete no micro e em quinze
minutos você tem uma refeição completa! O fast food está matando a arte da agricultura,
da culinária, da degustação.
No
sexo queremos logo o orgasmo e esquecemos que o caminho pra chegar até ele é a
diversão dos sentidos. Sim, as coisas pararam de fazer sentido. A gente
trabalha feito louco pra ter sucesso e depois poder respirar. Devíamos respirar
antes de ir trabalhar. A gente entra na corrida só pensando em ganhar. Ganhar dinheiro,
promoção, tempo. Nem olhamos pro lado pra ver quem está correndo com a gente!
“Eu que já não quero mais ser um vencedor, levo a vida
devagar pra não faltar amor...”
[los hermanos]
Queremos
tudo de uma vez e só pra nós. Queremos muito e pouco oferecemos. Queremos o que
é do outro sem fazer esforço. Ninguém quer mais malhar, quer uma cirurgia milagrosa
que sugue gordurinha e injete gostosura. O photoshop e o bisturi mataram a arte
do corpo humano. Mataram o concurso de miss e a mitologia grega!
É
a época do mínimo esforço, do não dou a mínima. Todo mundo quer ser milionário ganhando na Mega sena. Época de se estar na frente, do ser conveniente. Tudo pasteurizado, padronizado.
Por
essas e outras que torço pelo resgate da espontaneidade, da regionalidade, da
casualidade. Quero mais olho no olho, mais sabor, mais conteúdo. Quero gente de
verdade. Tudo de verdade! Quero encontrar o prazer em tudo que tenho e que
faço. Porque assim o mundo será feliz, quando todos tiverem alma de artista e
conseguirem tirar prazer do trabalho. Assim profetizou Auguste Rodin e assim
espero que caminhe a humanidade.