segunda-feira, 25 de junho de 2012

quinta-feira, 7 de junho de 2012

LUZ, SEXO, AÇÃO



Quando fui convidada a fazer parte do elenco de Procuradas não tinha idéia do que viria pela frente. Na época eu era âncora do telejornal do meio-dia na RBS TV em Santa Catarina. Tinha status e credibilidade. Mas o desafio foi tão tentador que pedi demissão como jornalista e topei interpretar uma garota de programa no longa metragem de José Frazão e Zeca Pires. Abandonei a bancada e o terninho pra subir no palco de fio dental. Fui chamada de louca, burra, irresponsável. Afinal, tinha 31 anos, dois filhos e uma vida completamente estruturada. O que para alguns era o fim para mim era só o recomeço da minha carreira de atriz.
Foram dois intensos meses de mergulho no universo da prostituição. Tive aulas de dança, treinei strip tease com o maridão, li muitos livros e assisti a filmes relacionados. Mas foi o laboratório nas casas noturnas que me fez relativizar sobre essa profissão tão antiga. Sendo jornalista (e curiosa!) fiz centenas de perguntas e acompanhei o dia e a noite das prostitutas em Florianópolis. E são minhas observações que divido agora com vocês.
“Adoro sexo! Por que não unir o útil ao agradável?”. Essa foi a primeira declaração que ouvi das meninas da noite. A maioria delas leva uma vida dupla, cria personagem com nome fictício e esconde da família e da sociedade a real profissão. Conta para parentes e namorados que é promotora em eventos, modelo, ou outro tipo qualquer de trabalho sem vínculo empregatício.  Diariamente cruzamos nas ruas com estas meninas que freqüentam escola ou faculdade particular e levam uma vida (praticamente) normal. Muitas sofreram abusos e apanharam em casa, por isso resolveram encarar o mundo por conta própria. Em vez de trabalhar um mês inteiro engolindo sapos pra ganhar uma quantia irrisória num sub emprego, preferem ganhar a mesma quantia em uma única noite de “amor”. Sim, muitas acreditam que vendem amor, que suprem a carência (não só sexual, mas afetiva) de clientes fiéis. Ouvi relatos incríveis sobre taras, histórias impossíveis de reproduzir nestas páginas. Vida fácil? De jeito algum. Elas labutam bastante madrugada adentro consumindo álcool, cigarro e até drogas pesadas pra suportar uma vida de sacrifícios. O que as atrai nesse mundo? Glamour, fantasia, possibilidades. Que mulher não gosta de se produzir, de se sentir desejada, amada, cortejada? Em troca, recebe presentes e declarações. Pela primeira vez na vida essa menina sem perspectivas tem a possibilidade de comprar o vestido da vitrine, o sapato de grife, um mundo completamente diferente do que conhece. E quem sabe até viver um conto de fadas, como a prostituta de luxo vivida por Audrey Hepburn no clássico Bonequinha de Luxo. Ou se transformar numa elegante dama que flecha o coração do belo empresário solteiro como fez Julia Roberts em Uma linda Mulher .
Embora façam sexo por dinheiro, no fundo são românticas. Como todas as mulheres, elas sonham com o amor verdadeiro, com a possibilidade de encontrar alguém que queira mais do que um corpo, que enxergue a alma camuflada em maquiagem. E enquanto servem de consolo ou fantasia, planejam outra vida: “É só uma fase, só até fazer dinheiro, só até terminar a faculdade, só até...”
Glamour e decadência. Diversão e solidão. Fantasia e realidade. Noite e dia. O que lembra a última cena da minha personagem Luma em Procuradas. Depois de falar sobre suas perdas na vida, ela enxuga as lágrimas, respira fundo e entra em cena sob a luz dos holofotes. O show tem que continuar.

* texto encomendado para o site do programa Revista do Cinema Brasileiro, da TV Brasil.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Os rabugentos que me desculpem, mas bom humor é fundamental


O bom humor é um dom. Uma qualidade rara. Não se pode roubar, vender, doar. Tem gente que nasce com ele e tem gente que aprende a ter. Mas não pense que é tarefa fácil. Pra quem está acostumado a reclamar da vida tirar leite de pedra é um trabalho diário e exaustivo que exige disciplina e sacrifício. Eu sou uma dessas figuras que tem o dom de enxergar o lado negativo das coisas. Procuro defeitos, fuço o erro, cutuco o destino, encontro até pêlo em ovo. Tenho que ficar sempre alerta pro bichinho do mau humor não dominar. Sim, porque gente reclamona é uma praga que se alastra e contamina um rebanho.
Gente que reclama demais, que bota defeito em tudo só  atrasa a vida. Dela e do bando todo. Com o tempo nossa tendência é afastar gente assim e se aproximar dos mais positivos, divertidos, de bem com a vida. Essas figuras são como imãs que atraem coisas boas por onde passam. É o tal do Segredo que nunca foi segredo pra ninguém.
Se parar pra pensar a vida é problema atrás de problema. A diferença é como você descasca o abacaxi, como você corta o pepino. Na real, a gente nunca sabe se o que está acontecendo é bom ou ruim, simplesmente é. Por alguma razão que um dia saberemos. Ou não, já diria Caetano. Então adianta ficar remoendo os problemas? Ruminando as dificuldades? Nada. Só traz mais doença e sisudez. E além dos seus próprios ainda ter que compartilhar a tragédia alheia? Ninguém merece. Foi-se o tempo em que a humanidade preferia a tragédia. Shakespeare que o diga. Quer bilheteria lotada hoje? Monta uma comédia. O povo quer rir. Rir de si mesmo, rir da vizinha, da família, do político, rir da tragédia humana. Por meio do riso vem a identificação.
Sou fã do bom humor. Acho que ele emagrece, enobrece, enaltece. Ele inspira, aproxima, cura, contamina. Sem falar que arrebata e apaixona. Que mulher já não ficou caidinha pelo bom humor de um cara? Eu confesso suspirar por gente de humor afiado. Claro, tem que ser humor inteligente quase de nascença. Não pode ser aquele chato que conta as mesmas anedotas antigas e controversas. Aquele que perde o amigo, mas não a piada. Ou perde o amigo PORQUE conta a piada (rs). Quando o sujeito faz humor demais com tudo e o tempo inteiro acaba falando bobagem e passando da conta também. Humor é como bebida, há que se ter moderação.
O resto é pessoal. Tem gente que gosta de piada chula, outros preferem o humor ácido ou negro. O que vale é encontrar no meio do caos um lado positivo, divertido. E pode ter certeza de que ele está ali, nas entrelinhas, na esquina, escondido em algum canto. Porque só um cara muito bem humorado poderia criar um mundo assim tão louco. E vamos e convenhamos, nós seres humanos somos mesmo uma piada.