terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quem inventou o futuro do passado?

Sempre quis saber quem teve a grandessíssima idéia de colocar esta condição para um verbo. Eu gostaria, eu queria, eu faria... Ir para o futuro com o pesar do passado me faz nunca viver o presente. O futuro do pretérito nos faz hesitantes, inseguros, duvidosos, incertos. Algo que era pra ter acontecido, mas não aconteceu. Se eu tivesse feito tal coisa, eu estaria de outro jeito. Ok, mas não fez, paciência.
Gostava das aulas de português no colégio, mas ficava irritada com esse tempo verbal. Acho que ele tem muito a ver com os problemas da humanidade. Pensar que o ontem era mais bonito e interessante, acreditar que o futuro será melhor e diferente... tudo isso gera angústia e frustração e, por conseqüência, uma fuga para o que se é, o que se vive no presente. Pense comigo... as guerras, os crimes, os pesadelos existem porque não estamos conectados com o agora e sim presos ao que fizeram ou fizemos, ou ainda, ao que seremos.  Na maior parte do tempo vivemos com a cabeça em outro lugar, desconectados de nós mesmos. Já experimentou lavar os pratos prestando atenção em cada detalhe do que está fazendo sem dispersar? Tem gente que vai para um ashram na Índia experimentar isso. Por que não incorporar essa intenção ao cotidiano? Quando brincar com o filho, só fazer isso, com vontade e presença.
Chega de conjugar verbos de incerteza, é tempo de acreditar! Sim, eu posso, eu sou, eu quero, eu vivo. Yes, we can, diria Obama. Ops, diria não, diz! Sim, nós podemos encontrar a poesia da vida a todo o momento. Olhar e - realmente - ver o que está acontecendo a nossa volta. A magia está, justamente, em vivermos uma única vez aquela experiência. Como no teatro, cada noite um espetáculo único e só quem está lá ganha o presente.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

TAPANDO FERIDAS

 Abri o armário e escolhi uma saia linda. Estava em um dia mulherzinha (no melhor dos sentidos). Entrei num banho rápido, mas curtido, nem quente, nem frio. Uma geral com a gilete e me ponho a raspar a perna. Onde ficará minha dignidade se alguém enxergar, tocar ou adivinhar que tenho pelos duros e escuros que teimam em crescer!  Nessa corrida em aparar o que tiver pela frente, me deparo com uma casca de ferida (sim, minha gente, a bailarina também tem). Por um frame, penso em arrancar a casca dura e escura pra garantir uma superfície lisa e perfeita. Afinal, não é o que se procura: uma pele sem marcas, cicatrizes, manchas, estrias ou celulite? Felizmente meu impulso deu lugar a um momento de sensatez e acabei por deixar a casquinha incólume, tranqüila em seu canto, esperando o tempo certo de secar e cair. Eu certamente ganharia mais uma marca depois de curada a ferida. Mais uma lembrança de uma vida bem vivida. Muitos tombos, muitas tentativas, muita intensidade. Essa sou eu. Se tirar minhas marcas, não terei mais as provas de que vivi. Cada ruga, cada escorregão me pertencem e eu pertenço a todos eles, a todos os momentos - felizes ou não - que vivi. São histórias pra contar aos filhos e netos que vão se orgulhar em imaginar por onde andei. Não, eu não quero e nem preciso de injeções para tapar estrias, fórmulas milagrosas para esconder as rugas ou pílulas para amortecer as frustrações. Viver, afinal, é estar no risco... cair, chorar, sofrer e se levantar com a força e a paciência pra curar as feridas.