No início dos anos 70 lugar de criança brincar era na rua. Sem as parafernálias tecnológicas, tínhamos apenas a imaginação e alguns canais de televisão. E eram os ingênuos seriados americanos que inspiravam as brincadeiras.
Foi
assim que surgiu a Swat do Beco: uma Patrulha Especial criada para resolver
todos os problemas do nosso bairro. Montados em nossas poderosas bikes
corríamos as ruas na esperança de solucionar casos policiais. Em uma semana de
atividades encontramos e devolvemos ao lar um menino perdido, ajudamos
velhinhos a atravessar a rua, tiramos gatinhos de árvores e toda essa baboseira
que só um grupo de pirralhos bem intencionados pode ser capaz. Mas nosso maior
caso ainda estava por vir.
Tudo
aconteceu muito rápido, num sábado à tarde. Ao passar por uma casa abandonada
na esquina do nosso beco, vi uma janela quebrada e chamei o grupo. Pelos
estilhaços de vidro vimos um sujeito maltrapilho deitado no chão, desacordado.
Ao lado dele uma seringa e um pacote que nos pareceu incriminador. Eu, então
com 7 anos, nunca tinha chegado tão perto de um Fora da Lei. Era preciso tomar
uma providência e a Swat do Beco entrou em ação, naquela que seria a maior
operação de nossa história.
Afoitos,
saímos em busca de apoio e para nossa sorte (e azar do cara!) passou uma
viatura da polícia. Fizemos tanto alvoroço que eles pararam o carro e resolveram
ajudar. Com armas em punho, os policiais invadiram o casebre levando algemado o
pobre cidadão, dedurado por pentelhos que imaginavam estar prendendo um
traficante de alta periculosidade, praticamente um Fernandinho Beiramar. Nosso
orgulho estava inflado diante da grandiosa captura. Nosso medo também. E se o
bandido saisse da prisão jurando vingança? Sessão da Tarde demais na cabeça.
Escondidos atrás de um muro acompanhamos o sujeito ser colocado na viatura e
tememos por nossa vidas. A operação arriscada rendeu noites de pesadelo e, por
fim, a Swat do Beco decidiu se aposentar do mundo do crime. Sorte dos mendigos,
velhinhos, gatinhos...
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