segunda-feira, 14 de maio de 2012

chá tice


Algumas pessoas têm prazo de validade. Está comprovado que se pode passar até setenta minutos suportando a chatice alheia. Mais que isso é trabalho voluntário.
Bom, tem situações em que a gente agüenta um final de semana inteiro ao lado de um chato, mas é só por amor a um terceiro ou por pura educação cristã. Ninguém é obrigado a conviver meses, anos ao lado de um chatonildo. Não existe uma lei que garanta ao chato essa apelação. Porque tudo tem limite nessa vida, minha gente, até doação.
Esta aí outra coisa chata de se aturar! Já me ligaram pra pedir fralda pra idoso, agasalho pra friorento, pão pra faminto, leitinho pra recém nascido. Não passa um dia sequer que não esbarre na rua com um pedinte pidão. Poxa, a vida não está fácil pra ninguém e nem por isso a gente vai pra esquina expor a situação! Se eu to quebrado o problema é meu, ou do Governo ou do divino mesmo, fazer o quê? Confesso ter coração mole e alma inocente, mas nem Polyanna acreditaria em tudo que se ouve por uma moeda.
Tem pobre que é chato e tem rico que é mais chato ainda. A chatice não escolhe cor nem credo, idade nem estilo. Ela remonta a Antiguidade, desde a Grécia e o Egito (Platão era considerado chato). Chatice é como pernilongo no ouvido da gente. Ou barulho de furadeira. É uma dor de dente, uma enxaqueca, um parente. Desses que aportam na sua casa com a cara deslavada e a intenção de só ir embora no último minuto do segundo tempo da sua santa paciência. Sim, porque é chatíssimo aturar parente distante por mais tempo que o tempo de um churrasco. Quem não tem um tio tosco que só repete piada e passa a mão na empregada? Ou uma prima pirada que só fala da vida passada?
Segundo pesquisa do Instituto Canadense para assuntos irrelevantes, existe um chato para cada três cidadãos no mundo. Um chato do tipo insuportável, daqueles que você enxerga na esquina e muda o rumo, que chega e acaba com qualquer conversa, o famoso chato de galocha que entra e suja a sala de lama em dia de chuva.
Mas não esqueçamos também do chato mediano. Um mala sem alça que, com pena de dar um fora, vamos dando uma colher de chá (tice). Até que a situação se torna insuportavelmente chata e você não tem mais ponto de fuga. E enquanto o chato fala, passa um filme na sua cabeça, o filme da sua vida que parece ter acabado ali naquele instante afogada na chatice alheia.
O que salva os chatos é a paciência e, em muitos casos, o álcool, que dissolve a chatice e a torna levemente suportável. Claro, só até que o prazo de validade da pessoa expire e a gente fuja no primeiro taxi.

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