quinta-feira, 7 de junho de 2012

LUZ, SEXO, AÇÃO



Quando fui convidada a fazer parte do elenco de Procuradas não tinha idéia do que viria pela frente. Na época eu era âncora do telejornal do meio-dia na RBS TV em Santa Catarina. Tinha status e credibilidade. Mas o desafio foi tão tentador que pedi demissão como jornalista e topei interpretar uma garota de programa no longa metragem de José Frazão e Zeca Pires. Abandonei a bancada e o terninho pra subir no palco de fio dental. Fui chamada de louca, burra, irresponsável. Afinal, tinha 31 anos, dois filhos e uma vida completamente estruturada. O que para alguns era o fim para mim era só o recomeço da minha carreira de atriz.
Foram dois intensos meses de mergulho no universo da prostituição. Tive aulas de dança, treinei strip tease com o maridão, li muitos livros e assisti a filmes relacionados. Mas foi o laboratório nas casas noturnas que me fez relativizar sobre essa profissão tão antiga. Sendo jornalista (e curiosa!) fiz centenas de perguntas e acompanhei o dia e a noite das prostitutas em Florianópolis. E são minhas observações que divido agora com vocês.
“Adoro sexo! Por que não unir o útil ao agradável?”. Essa foi a primeira declaração que ouvi das meninas da noite. A maioria delas leva uma vida dupla, cria personagem com nome fictício e esconde da família e da sociedade a real profissão. Conta para parentes e namorados que é promotora em eventos, modelo, ou outro tipo qualquer de trabalho sem vínculo empregatício.  Diariamente cruzamos nas ruas com estas meninas que freqüentam escola ou faculdade particular e levam uma vida (praticamente) normal. Muitas sofreram abusos e apanharam em casa, por isso resolveram encarar o mundo por conta própria. Em vez de trabalhar um mês inteiro engolindo sapos pra ganhar uma quantia irrisória num sub emprego, preferem ganhar a mesma quantia em uma única noite de “amor”. Sim, muitas acreditam que vendem amor, que suprem a carência (não só sexual, mas afetiva) de clientes fiéis. Ouvi relatos incríveis sobre taras, histórias impossíveis de reproduzir nestas páginas. Vida fácil? De jeito algum. Elas labutam bastante madrugada adentro consumindo álcool, cigarro e até drogas pesadas pra suportar uma vida de sacrifícios. O que as atrai nesse mundo? Glamour, fantasia, possibilidades. Que mulher não gosta de se produzir, de se sentir desejada, amada, cortejada? Em troca, recebe presentes e declarações. Pela primeira vez na vida essa menina sem perspectivas tem a possibilidade de comprar o vestido da vitrine, o sapato de grife, um mundo completamente diferente do que conhece. E quem sabe até viver um conto de fadas, como a prostituta de luxo vivida por Audrey Hepburn no clássico Bonequinha de Luxo. Ou se transformar numa elegante dama que flecha o coração do belo empresário solteiro como fez Julia Roberts em Uma linda Mulher .
Embora façam sexo por dinheiro, no fundo são românticas. Como todas as mulheres, elas sonham com o amor verdadeiro, com a possibilidade de encontrar alguém que queira mais do que um corpo, que enxergue a alma camuflada em maquiagem. E enquanto servem de consolo ou fantasia, planejam outra vida: “É só uma fase, só até fazer dinheiro, só até terminar a faculdade, só até...”
Glamour e decadência. Diversão e solidão. Fantasia e realidade. Noite e dia. O que lembra a última cena da minha personagem Luma em Procuradas. Depois de falar sobre suas perdas na vida, ela enxuga as lágrimas, respira fundo e entra em cena sob a luz dos holofotes. O show tem que continuar.

* texto encomendado para o site do programa Revista do Cinema Brasileiro, da TV Brasil.

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