segunda-feira, 29 de agosto de 2011

TAPANDO FERIDAS

 Abri o armário e escolhi uma saia linda. Estava em um dia mulherzinha (no melhor dos sentidos). Entrei num banho rápido, mas curtido, nem quente, nem frio. Uma geral com a gilete e me ponho a raspar a perna. Onde ficará minha dignidade se alguém enxergar, tocar ou adivinhar que tenho pelos duros e escuros que teimam em crescer!  Nessa corrida em aparar o que tiver pela frente, me deparo com uma casca de ferida (sim, minha gente, a bailarina também tem). Por um frame, penso em arrancar a casca dura e escura pra garantir uma superfície lisa e perfeita. Afinal, não é o que se procura: uma pele sem marcas, cicatrizes, manchas, estrias ou celulite? Felizmente meu impulso deu lugar a um momento de sensatez e acabei por deixar a casquinha incólume, tranqüila em seu canto, esperando o tempo certo de secar e cair. Eu certamente ganharia mais uma marca depois de curada a ferida. Mais uma lembrança de uma vida bem vivida. Muitos tombos, muitas tentativas, muita intensidade. Essa sou eu. Se tirar minhas marcas, não terei mais as provas de que vivi. Cada ruga, cada escorregão me pertencem e eu pertenço a todos eles, a todos os momentos - felizes ou não - que vivi. São histórias pra contar aos filhos e netos que vão se orgulhar em imaginar por onde andei. Não, eu não quero e nem preciso de injeções para tapar estrias, fórmulas milagrosas para esconder as rugas ou pílulas para amortecer as frustrações. Viver, afinal, é estar no risco... cair, chorar, sofrer e se levantar com a força e a paciência pra curar as feridas.

2 comentários:

  1. Adorei e, já roubarttilhei p/ o Facebook! Beijo e sucesso!!!

    ResponderExcluir
  2. Deia!!!
    Parabens!!! Alem de linda e talentosa, nos mostrando cada vez mais a mulher inteligente e pe no chao que es!!! Beijao

    ResponderExcluir