domingo, 16 de março de 2014

um amor ou um smartphone?

Chovendo muito. Meu ar condicionado para de funcionar e sinto que a luz acabou. Chacoalho meu amor ao lado e peço ajuda. Ele continua dormindo depois de resmungar alguma coisa em javanês. Um silêncio toma conta do quarto e de mim. Estou só, perdida, com medo. Estico o braço no escuro em busca de apoio e encontro ele, meu celular. Ufa, estou salva! Num só toque ele me diz que dia é hoje, que horas são e qual o preço do gado na Albânia, enquanto meu amor dorme despreocupado. Levanto da cama e acabo tropeçando num sapato 42 bico longo largado no meio do caminho. Graças à lanterna do meu celular chego ao banheiro sã e salva, sabendo como está a cotação do dólar e o clima em Pequim. Fico bem mais tranquila. Perco o sono e começo a pensar na vida. Será que tenho crédito no banco pra cobrir aquela conta que cai amanhã? Do meu eficiente celular acesso o banco on line e faço uma rápida transferência. E a reunião de amanhã, será que vou saber chegar ao local marcado? Acesso o Maps e jogo o endereço pro meu GPS. Pronto, já não tenho medo ou insegurança. Volto pra cama ouvindo uma musica tranquila e me deito pra relaxar. Apesar da falta de luz ainda consigo assistir a um episodio da minha serie favorita, posto uma foto pra não perder o hábito e jogo um pouquinho antes de pegar no sono. No tempo do radio relógio eu estaria perdida sem energia elétrica, mas agora posso tranquilamente ligar o alarme do meu aparelhinho e dormir como um anjo sabendo que no dia seguinte ele estará ao meu lado pro que der e vier. Dou um beijinho de boa noite no meu celular e abandono meu amor, digo, abandono meu celular e dou um beijinho de boa noite no meu amor, que ainda dorme ao meu lado.


Ps: todos os fatos e personagens são fictícios e qualquer semelhança com a vida real é arte. 

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